Escravatura moderna
Vivemos no século XXI... Vivemos? Quando ouvimos isto pensamos num mundo moderno, com tudo o que advém disso mesmo, da modernidade. Mas afinal o que é a modernidade? Somos educados de forma a pensar que a modernidade é boa. A evolução. Mas será que evoluímos mesmo? Ou a única coisa em que evoluímos foi na forma de enganar terceiros a pensar que agora as coisas podem ser más, mas são bem melhores que anteriormente? Provavelmente é mais isto. Senão vejamos. Um jovem -que não tenha tido a sorte de nascer num berço de ouro - mata a cabeça durante anos a estudar e a sonhar em ser alguém. Esse alguém não precisa, necessariamente, de ser uma pessoa rica, poderosa, o dono do mundo, simplesmente alguém com vida própria. Independente. Tudo muito bonito até aqui. Chega a idade crítica. Procura o primeiro emprego. Tem cerca de 20% (acho que estou a ser demasiado positiva) de hipóteses de trabalhar na área que quer. Imaginemos que até consegue. Começa a receber pouco (dinheiro), mas continua a matar-se, mas agora para mostrar serviço ao patrão. Os anos passam. As promessas que tudo vai melhorar são renovadas constantemente. A crença é que vai deixando de existir, pois ninguém é de ferro e eternamente parvo. Porém, o patrão tem do lado dele a dura realidade que o pobre desgraçado terá de enfrentar se se despedir: desemprego, é o mais provável. Logo, pode manter a exploração, lançando um ou outro biscoito para manter a ilusão porque também ele, não é parvo.
Os que não conseguem trabalho na área que gostariam, continuam a viver o sonho de ser algo que o mundo não os vai deixar... Esses são explorados por eles próprio, ou seja, pela sensação que falharam. Outros até têm a sorte de encontrarem algo inesperadamente bom. Adiante.
Não. Não é para baixarmos os braços a pensar que somos uns coitadinhos e que não vamos a lado nenhum porque está tudo contra nós (por nós entenda-se as gerações que sofrem na pele toda esta crise e todas as gerações que correm o sério risco de sofre-la ainda mais).
Verdade, há muito contra nós. Mas nos tempos da escravatura moderna até podemos tirar as amarras, se quisermos. É essa a única grande diferença para com os antepassados. Para o fazer há que ter coragem de arriscar. Mais fácil falar, eu sei. No entanto, o que é preferível, viver seguro e infeliz? Ou correr o risco e quem sabe encontrar o que se quer, ou, pelo menos, saber que se tentou?
Cada um sabe de si...