A perda da inocência
Vivemos no mundo dominado pela informação. Televisão, rádio, imprensa, internet, facilmente sabemos tudo o que se passa neste planeta, que, cada vez mais, parece mais pequeno. A quantidade de informação que recebemos é tanta que, penso eu, parece que estamos a ficar insensíveis. Assistimos a imagens terríveis como de desastres naturais, guerras, etc, etc e após os habituais comentários de "que horror", "está tudo cada vez pior", esse tipo de clichés, continuamos com as nossas vidas. Se calhar é mesmo assim que tem de ser, afinal não podemos ajudar tudo e todos. Contudo, ontem assisti a um documentário na SIC Notícias que me tocou muito e que me fez pensar a forma algo banal como às vezes assisto às notícias.
Aconteceu há pouco mais de um ano: o cerco de Beslan (Rússia) - terroristas chechenos entraram numa escola, no primeiro dia de aulas, mantendo reféns centenas de pessoas. Foram três dias de puro horror do sequestro da escola, que acabou em tragédia. 170 crianças e mais de 200 adultos pereceram. Já nem me lembrava do sucedido até ver as lembranças nos jornais e ontem o documentário da BBC assegurou que não voltarei a esquecer. Desta vez não era um jornalista a relatar o sucedido ou um militar a explicar o que supostamente se passou. Não, foi dada a voz às crianças que sobreviveram. As suas descrições foram tocantes, tanto quanto os seus olhares vazios, de quem perdeu a infância naqueles malogrados dias que eram suposto terem marcado apenas e só o início de mais um ano escolar.
Se quase duas centenas de crianças perderam a vida, outras tantas perdera a sua alma, a sua inocência. Algumas nem dez anos têm e das suas bocas saiem palavras como "vingança", "degolar terroristas", "ódio", "morte". Estas crianças jamais ultrapassarão o trauma, mas no meio de tantas descrições que só podiam entristecer quem as ouviu, uma menina disse uma frase que não me sai da cabeça, mesmo sendo eu uma não crente: «Pedi a Deus que nos salvasse a todos. Ele não o pôde fazer. Ficou com as melhores crianças, com as mais bonitas...».
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